Através do Projeto Educando e Transformando com a Horta, o Cepagro tem desenvolvido atividades de educação agroecológica junto à escolas municipais de São José, na região da Grande Florianópolis (SC). O Projeto começou no início deste ano, depois de ter sido selecionado na 7ª edição do programa Educar para Transformar, do Instituto MRV. As atividades, que inicialmente seriam realizadas com visitas semanais às escolas, tiveram que ser adaptadas para o contexto atual, com aulas à distância.

menino escrevendo no quadro branco em frente a sala de aula
Duas alunas ao lado de um canteiro da horta escolar. Uma delas segura seu caderno enquanto aponta para uma planta com a outra.

O projeto foi construído com três escolas de São José, o Colégio Municipal Maria Luiza de Melo, Centro Educacional Municipal Santa Terezinha e CEM Escola do Mar. Em diálogo com professores/as, direção e cozinheiras, explicamos os eixos de trabalho e planejamos as atividades, alinhando o calendário escolar ao agrícola e trazendo essa dinâmica para o Plano Político Pedagógico. Quando o ano letivo começou, apresentamos o projeto também para as turmas das escolas, mas logo chegou a necessidade do isolamento social e com a suspensão das aulas resolvemos adaptar para aulas remotas, sempre no diálogo com professoras e diretoras.

Compreendemos que essa modalidade não substitui a vivência presencial e democrática da horta escolar. Entendemos também que a modalidade de educação à distância não atinge todos/as os/as estudantes, especialmente de escolas públicas, onde o acesso a internet e a dispositivos digitais, em muitos casos, não é uma realidade. E quando há internet e dispositivos, esses são divididos com outros membros da família. No entanto, essa foi a maneira que encontramos de levar a Agroecologia para dentro de algumas  casas, enquanto aguardamos ansiosamente o retorno seguro das aulas presenciais.

O materiais enviados as crianças são vídeo-aulas e conteúdos complementares preparados pela Engenheira Agrônoma do Cepagro e coordenadora do projeto, Karina Smania de Lorenzi. Os temas preparados por ela estão sempre relacionados com a temática trabalhada pelas professoras no momento. 

Imagem capturada a partir de videoaula, onde Karina ensina sobre frações quanto parte uma folha de couve ao meio.

Karina explica, “as professoras mandam os conteúdos e eu relaciono com os elementos do projeto, como por exemplo o sistema respiratório, onde trabalhamos com plantas que ajudam o sistema respiratório, como o gengibre. Ou sobre a história do Brasil, onde trabalhamos com alimentos indígenas”. Além do vídeo, Karina também envia uma parte escrita com o mesmo conteúdo, a qual alguns/as alunos/as retiram impresso na escola.

Gemeos posam para a foto segurando mudas em suas mãos..

Os irmãos gêmeos Gustavo e Otávio Pereira da Silva, estudantes do 5º ano da escola Sta. Terezinha têm conseguido assistir as vídeo-aulas. Depois de aprender sobre as plantas medicinais que ajudam no bom funcionamento do sistema respiratório, eles foram até a casa da avó buscar mudinhas de gengibre. A mãe, Daniela Pereira conta que eles têm um primo e um colega da escola com problemas respiratórios e que ficavam muito assustados quando dava uma crise neles, “agora já sabem como ajudar a prevenir com chás que podemos fazer em casa”. Como experimento proposto pela Karina, eles replantaram  mudinhas de gengibre e de açafrão em casa.

Também aprenderam sobre a cultura alimentar indígena e descobriram como se planta e colhe a mandioca. Assim como Marcos (foto), também do quinto ano. A professora dos meninos, Fabiana dos Santos conta que teve um bom retorno dos alunos. “As vídeo aulas são ótimas e o material que a Karina prepara demonstra muita identidade com a comunidade onde a escola está situada. Essa identidade é muito importante para um bom trabalho, mesmo que a distância”. A escola Santa Terezinha está localizada em Zona Rural, no bairro Forquilhas.

Muitas crianças desta comunidade ainda se encontram sem acesso a internet ou a computadores. A distância tem sido um grande obstáculo pela falta de trocas, vivências e interação, segundo Fabiana, “um trabalho educativo precisa de todo esse processo. Penso que nem professores e nem alunos estavam preparados para essa atividade de ensino remoto em regime emergencial. Mas precisamos continuar e achar metodologias que consigam nesse momento nos aproximar de nossos alunos e fazer com que percebam que estamos aqui”.

A crescente preocupação com a sustentabilidade e o impacto ambiental das ações humanas mostra a importância de se trabalhar a educação ambiental desde a infância. Assim, enquanto as aulas presenciais ainda não tem data certa e segura para retorno, seguimos jogando sementes de Agroecologia e Alimentação Saudável na esperança de que encontrem solo fértil para brotar e gerar frutos.