Realizado na última quarta-feira, 17 de setembro, o mini-curso reuniu diversos agricultores que integram o projeto de Fomento à Assistência Técnica e Extensão Rural para Fumicultores visando à Transição Agroecológica que o Cepagro está implementando na região através do Fundo para Reconstituição de Bens Lesados do Ministério Público de Santa Catarina. A capacitação foi ministrada pela equipe do Cepagro com a colaboração do engenheiro agrônomo Guilherme Gomes na propriedade da família Stolarczk, na comunidade do Pinheiral. “Hoje em dia, a matéria orgânica dos solos está bastante diminuída, devido aos cultivos convencionais, que adubam o solo para apenas uma safra”, explicou Guilherme. “Já a agricultura orgânica pensa na fertilidade do solo para várias culturas, para o futuro”, completou.

A oficina é mais uma ação do Cepagro no âmbito da Diversificação Produtiva em Áreas Cultivadas com Tabaco.

A oficina é mais uma ação do Cepagro no âmbito da Diversificação Produtiva em Áreas Cultivadas com Tabaco.


Foi com este mote da preservação dos solos a longo prazo que Guilherme iniciou o curso, relatando a própria experiência de recuperação de uma área no Ratones, iniciada em 1996. No terreno recém-adquirido pela família, o agrônomo encontrou uma terra argilosa, com pouca matéria orgânica e muita acidez, resultado de 200 anos de uso agrícola intensivo. Através de técnicas como cobertura verde e uso de adubação natural (composto orgânico com esterco e cama de aviário), ele conseguiu não só aumentar a fertilidade do solo, mas também a vida útil dos canteiros. Se no início do processo de recuperação era necessário adubá-los a cada 3 meses, após 5 anos este período aumentou para 13 meses.
O engenheiro agrônomo Guliherme Gomes mostra as técnicas de recuperação de solos que usou em sua propriedade.
O engenheiro agrônomo Guliherme Gomes mostra as técnicas de recuperação de solos que usou em sua propriedade.
Uma experiência parecida foi vivenciada pelo agricultor Oséias Staroski, da comunidade do Rio das Flores, em Major Gercino. “O terreno era bruto, que nem estrada. A terra já não tinha mais minhoca, de tanto veneno que tinham sido passado antes. Por quase dez anos eu tive que cuidar, plantava o milho e deixava ali. A cada ano foi melhorando”, contou. O agricultor também ficou interessado pela compostagem de esterco que viu ali e disse que pretende adotar a técnica em sua propriedade. “Como a gente quer entrar no orgânico, estou vendo como é que faz esse preparado”, disse.
Guilherme também esclareceu os participantes sobre o uso do calcário para correção dos solos, que em quantidades excessivas contribui para a diminuição da matéria orgânica e dos macro-organismos da terra, favorecendo a proliferação de fungos e nematóides nocivos. Além disso, foi apresentado um vídeo de 1991 sobre a experiência de uma horta municipal no Espírito Santo que já naquela época utilizava técnicas de manejo agroecológicas, como o “plantar no meio do mato”: ao invés de remover completamente a cobertura vegetal da terra antes de plantar, é estimulada a sua manutenção. Assim, diminui-se o risco de erosa e de pragas atacando as hortaliças, pois existem outras plantas disponíveis para os insetos comerem.
Este ponto chamou bastante a atenção do jovem agricultor Dione Eger, da localidade do Campinho, em Major Gercino. “Estou com 26 anos, neste tempo sempre aprendi que a terra tem que estar limpa para plantar, nunca pode ter outra planta competindo. E hoje, que não é a primeira oficina de manejo de solo ou de orgânicos que eu participo, eu vi novamente que o solo precisa estar protegido, que a planta que vai ser colhida não pode estar sozinha,”, disse. Já para Juvenício Motta, do Rio das Flores, a convivência entre plantas nativas ou ervas daninhas e as culturas era novidade: “Ao longo do tempo a gente foi aprendendo a deixar o milho depois do fumo pra manter a terra coberta. Isso eu já conhecia. Mas nunca tinha visto a verdura plantada daquele jeito no meio do brejo”, contou.
Além da parte teórica, os participantes da oficina foram a campo para conhecer mais sobre a adubação verde, técnica utilizada pela família Stolarzck nos parreirais e roças da propriedade. Os anfitriões fizeram uma demonstração do uso do rolo faca, ferramenta que "deita" a cobertura vegetal do solo, mantendo-o protegido.

Além da parte teórica, os participantes da oficina foram a campo para conhecer mais sobre a adubação verde, técnica utilizada pela família Stolarzck nos parreirais e roças da propriedade. Os anfitriões fizeram uma demonstração do uso do rolo faca, ferramenta que “deita” a cobertura vegetal do solo, mantendo-o protegido sem o uso de herbicidas.


Os agricultores também conheceram um pouco sobre as técnicas de compostagem de esterco e cama de aviário que a família usa na propriedade.

Promover a troca de experiências e saberes entre agricultores é um dos princípios-chave das dinâmicas de grupo da Rede Ecovida, constituindo parte da metodologia de trabalho deste projeto também. Na foto, os agricultores conhecem um pouco das técnicas de compostagem de esterco e cama de aviário que a família Stolarczk usa na propriedade.