Neste Dia Mundial da Alimentação, 16 de outubro, o Cepagro celebra o início de uma Ação Solidária que tem como objetivo fortalecer as Redes de Segurança Alimentar e Nutricional através da aquisição e doação de alimentos agroecológicos e da agricultura familiar a cozinhas comunitárias parceiras de Florianópolis. 

Desde o início da pandemia, diversas iniciativas de abastecimento alimentar surgiram ou se fortaleceram em Florianópolis. Entre elas estão as cozinhas comunitárias que estão tendo um papel muito importante em garantir alimentação para famílias que passaram a conviver com a fome. Buscando fortalecer e potencializar este trabalho nas comunidades e levar comida de verdade a quem precisa, o Cepagro iniciou esta semana a Ação Solidária Covid-19.

A ação tem o apoio da Fundação Interamericana (IAF) e é realizada em parceria com seis cozinhas comunitárias de Florianópolis: a Cozinha Dona Ilda, na Vila Aparecida, bairro Coqueiros, Cozinha Mãe, na Comunidade Chico Mendes, bairro Monte Cristo, Cozinha Hare Krishna, no Centro de Florianópolis, Cozinha Casa do Migrante, no bairro Capoeiras, Cozinha do Rio Vermelho e Cozinha Solidária Ribeirão da Ilha. Juntas estas cozinhas tem distribuído mensalmente mais de 7 mil refeições.

Assim, a Ação Solidária Covid-19 do Cepagro fortalece um trabalho em Rede e além de promover segurança alimentar e nutricional nas comunidades urbanas, também tem como objetivo gerar renda local no meio rural e promover a Agroecologia. Os alimentos entregues em Florianópolis estão sendo adquiridos de 5 famílias agricultoras do Núcleo 

Litoral Catarinense da Rede Ecovida, além do Assentamento Comuna Amarildo, cooperativas do Movimento Rural dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e da agricultura familiar regional. Futuramente, também entrarão para esta lista famílias indígenas de aldeias Guarani da Grande Florianópolis.


A Ação está prevista para acontecer em ciclos de entregas semanais e os alimentos são adquiridos e entregues às cozinhas conforme suas demandas mensais. Também de acordo com a sazonalidade e a produção das famílias agricultoras. 

Trabalho em rede

Cada uma das cozinhas possui uma dinâmica própria quanto aos dias e formatos de distribuição. A Cozinha Dona Ilda, por exemplo, tem como público alvo as famílias das crianças da Comunidade Vila Aparecida que participavam de uma escolinha de futebol, projeto social. A cozinha é gerida pela Ação Social Arquidiocesana (ASA) em parceria com o projeto Vivendo e Aprendendo, coletivo local da Vila Aparecida. As refeições são distribuídas especialmente aos sábados à noite em locais abertos e arejados da Comunidade.

Luciano Leite da Silva Filho, Coordenador do Centro de Integração Social Santa Dulce dos Pobres e que tem participado na gestão da cozinha, conta que as duas organizações eram parceiras em outros projetos sociais na comunidade e com a pandemia surgiu a demanda por alimento. Mas esse trabalho da cozinha, iniciado em junho, já ultrapassou a questão da segurança alimentar.

“Através de Cozinha Comunitária a gente vem pensando também o espaço do próprio território. Então através da cozinha comunitária foram surgindo outros projetos. A horta comunitária, que a gente está idealizando, a padaria comunitária que a gente fez uma fornada de teste ontem e amanhã vai começar a produção e a comercialização. E surgiram outros projetos como o ateliê de costura formado por mulheres da comunidade”, explica Luciano.

Início da produção na Padaria Comunitária Dona Zezé, Vila Aparecida

O pontapé inicial para a instalação da cozinha teve o apoio da Rede Com a Rua e Cozinha Solidária Ribeirão da Ilha. Luciano conta que a maior parte dos alimentos vem da doação de pessoas físicas, mas que há uma rede de apoio entre as cozinhas comunitárias em Florianópolis. Quando uma delas recebe alimentos a mais, repassa para outras e assim o trabalho acontece.

Cozinha Solidária Ribeirão da Ilha chega a distribuir em média 2.900 marmitas ao mês, com refeições entregues de segunda a sexta, três vezes por semana na Praça XV (Centro) e duas vezes em São José. Para Shira Maciel, culinarista e voluntária, “a importância desse trabalho é trazer dignidade para a população carente. O alimento saudável é um direito de todos e com isso lutamos também pela necessidade do Restaurante Popular”.

Muito além do alimento

Uma questão importante da Ação Solidária Covid-19 é promover a aproximação do campo e cidade na prática, um dos preceitos da Agroecologia, abastecendo com alimento limpo, livre de agrotóxicos, com história a quem precisa. Para a Mestra em Agroecossistemas e técnica do Cepagro, Isadora Leite Escosteguy, um dos desafios desta ação é o redesenho do sistema agroalimentar, rompendo as lógicas dominantes da centralização, dos ultraprocessados e circuitos longos e promovendo logísticas mais eficientes de abastecimento agroalimentar.

 Se torna assim uma estratégia de venda direta a partir de uma demanda garantida, onde o Cepagro é um articulador entre as famílias agricultoras, futuramente indígenas e os coletivos das cozinhas comunitárias.

“Acredito que o alimento é uma ferramenta política transformadora para atravessar momentos de crise – sanitária, ambiental, econômica, social. Nesses tempos, a pressão pela efetivação de políticas públicas para o abastecimento e garantia de SAN é extremamente necessária, mas em paralelo, estas ações solidárias de ONGs e coletivos em torno do alimento de verdade é crucial para potencializar a transformação que queremos”, comenta Isadora.

E além de fortalecer as Redes de Segurança Alimentar e Nutricional e atender demandas urgentes, esta ação também tem como propósito promover a formação cidadã e o debate acerca do Direito Humano à Alimentação Adequada e Saudável.