garrafa de suco de uva

Quando compramos um suco, uma geleia ou um molho no supermercado, o que olhamos no rótulo? Talvez as informações nutricionais, a quantidade de calorias, os ingredientes… No caso de alimentos orgânicos, o rótulo traz estampada a garantia da produção sem veneno. Mas para quem produz esses alimentos, sobretudo nas agroindústrias familiares, um rótulo traz muito mais do que informações.

No caso da CooperMajor, cooperativa de famílias agricultoras de Major Gercino, a conquista do rótulo para os sucos de uva produzidos na agroindústria representa anos de trabalho e formação coletivos.

“Esse é mais um passo importante pra gente poder comercializar nossos produtos”, conta o agricultor Ernande Stolarczk, do Conselho Fiscal da CooperMajor. Ele é uma das 8 famílias que produzem suco de uva na agroindústria da cooperativa, inaugurada em 2018 – são 3 famílias com produção orgânica e outras 5 no modelo convencional – que tem uma capacidade de processamento de 1.500 litros de suco por dia.

“Essa iniciativa agrega renda e principalmente coloca possibilidades de comercialização com a prefeituras via alimentação escolar e supermercados. Esse era um objetivo ao qual as famílias vinham se dedicando ao longo de 05 anos e que não era possível por conta de algumas inconformidades, agora resolvidas”, afirma Charles Lamb, técnico do Cepagro que fez a articulação entre a Coopermajor e a Nectalimentos, que realizou uma consultoria para adequação da agroindústria e registro do suco junto ao Ministério da Agricultura.

Os 15.000 litros de suco orgânico da safra 2020/2021 produzidos por 3 famílias agricultoras agroecológicas da CooperMajor – de Ernande, dos seus pais Aluísio e Salete Stolarczk e de Eduardo e Larissa May – agora já podem ir para as prateleiras comerciais e também entrar em compras públicas. Anteriormente, o produto só podia ser comercializado diretamente – em casa, em feiras ou por cestas.  

Para legalização da agroindústria e obtenção do rótulo do suco com registro no Ministério da Agricultura, as famílias da CooperMajor tiveram que fazer reformas na estrutura física da fábrica, passar por capacitações em boas práticas de fabricação e atravessar um longo caminho de trâmites burocráticos.

“Na prática a gente faz tudo certo, mas no papel é complicado”, explica Ernande sobre os desafios burocráticos para legalização do suco. “Nessa parte a Rossana nos deu bastante ajuda, na legalização junto ao MAPA, elaboração do rótulo… E continua, sempre sanando dúvidas”, completa, referindo-se à assessoria da engenheira agrônoma Rossana Podestá, da Nectalimentos, contratada através do projeto LA-188, que o Cepagro executa com apoio da IAF.

Rossana iniciou o trabalho com uma visita à agroindústria ainda em 2017, sugerindo então adequações na estrutura física para que as instalações estivem de acordo com as exigências do Ministério da Agricultura. Também colaborou na elaboração do Manual de Boas Práticas, das fichas técnicas e no desenvolvimento de procedimentos operacionais padrão, todos requisitos de órgãos fiscalizadores. 

“Todas as famílias tinham noção da qualidade do produto, mas não do quão importante era observar todos os procedimentos corretamente. Mas foram muito receptivos e toparam a ideia do curso de boas práticas de produção de alimentos”. O curso foi realizado em outubro de 2018, contando com a presença de 20 famílias integrantes da cooperativa. Na sequência, mais adequações de documentação para o registro do suco no Ministério da Agricultura. 

Todo esse processo ganhou cara nova com o rótulo desenhado pela Di_20 Design, empresa especializada em embalagens e renovação de marcas. “Desenvolvemos uma ilustração em base à região e à casa original onde são produzidos os sucos – nos vales de Major Gercino -, valorizando a origem artesanal do produto e gerando maior confiança para o público-alvo”, explica a agência na apresentação da nova marca.

Paralelamente à assessoria de Rossana, em 2019 a estudante de Engenharia de Alimentos Alice Nied realizou seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) analisando as características físco-químicas dos sucos produzidos pela CooperMajor, atestando mais uma vez sua qualidade e adequação aos parâmetros do Ministério da Agricultura.

Para 2021, Charles Lamb explica os próximos passos da assessoria: “Continuaremos com o  acompanhamento da produção dos sucos, análises de qualidade dos produtos, manutenção de documentos como fichas técnicas e manuais, cursos e treinamentos, além de apoio na manutenção do site QRCODE presente no rótulo”, afirma.