O sancocho é um prato típico da Colômbia, uma espécie de sopão de legumes com carne que, quanto mais variado em ingredientes, melhor. Sembrar el sancochito – cultivar nosso sancochito – é um dos lemas que resume o trabalho de promoção da Agroecologia realizado pela organização Corambiente junto a famílias camponesas da região de Santander, na Colômbia. É nos quintais produtivos, quase sempre sempre manejado por mulheres, que se cultiva o sancochito. Para cultivar o sancochito, é necessário ter acesso ao território, à água e às sementes. Ter o sancochito cultivado na horta é ter segurança e também soberania alimentar e nutricional.

Entre os dias 15 e 19 de agosto, a equipe do Cepagro teve o prazer de receber uma delegação de camponesas e técnicas de campo articuladas pela Corambiente, assim como representantes da Red de Mercados Agroecológicos Campesinos de Santander. Elas vieram conhecerum pouco da Agroecologia do Sul do Brasil, enfocando técnicas de produção, arranjos de comercialização, Sistemas Participativos de Garantia e também incidência política. A programação do intercâmbio mesclou visitas a campo e rodas de conversa com a equipe do Cepagro e do Laboratório de Comercialização da Agricultura Familiar (LACAF/UFSC). 

Na 2ª feira fizemos uma rodada de apresentação na sede do Cepagro. Ali pudemos conhecer mais sobre o trabalho da Corambiente, cujo compromisso maior é o empoderamento de comunidades camponesas no departamento Santander, explica a assistente social María Fernanda Reyes Parra, da equipe técnica da organização. Neste trabalho de acompanhamento, a Corambiente fomenta o fortalecimento organizacional associativo e empoderamento para a garantia de Direitos, especialmente os direitos das mulheres rurais.

Uma das associações apoiadas pela Corambiente é a ASOCIMUCAM – Asociación de Mujeres Campesinas de Matanza, voltada a  “promover o desenvolvimento integral das mulheres rurais e suas famílias”, de acordo com a presidenta da associação, a agricultora Ana Mercedes Flórez Ochoa. 

 “Trabalhamos toda a temática da agricultura orgânica para alimentação, mas também temos uma comercialização dos nossos produtos”, completa. Além do trabalho no eixo de produção e comercialização, a ASOCIMUCAM atua também na incidência política:  “Não trabalhamos mais só no entorno, também incidimos na política, construímos propostas para os candidatos a prefeito, para o plano de desenvolvimento municipal e também para o plano de desenvolvimento departamental. Também faço parte do comitê que é o comitê de soberania e segurança alimentar do departamento de Santander”, afirma a agricultora.

Outra frente de luta dessas da Corambiente e da Asocimucam é a defesa do território e dos bens comuns, representada especialmente pelo resguardo do Páramo de Santurbán frente às ameaças da mineração. Os páramos formam um bioma de altitude colombiano, extremamente relevante para os recursos hídricos e a biodiversidade. 

Também pudemos conhecer o trabalho da Rede de Mercados Campesinos Agroecológicos de Santander, base do Sistema Participativo de Garantia local e para o escoamento da produção das mulheres. Segundo María Fernanda Parra, os mercados propiciam uma maior autonomia econômica às mulheres. “Com a agroecologia, a produção diversificada nos quintais produtivos, à qual se paga um preço justo, comercializada no mercado local direto, permite obter recursos para suas próprias necessidades e também melhorar e até ampliar seus projetos e processos agroecológicos”. 

Na 3a, dia 16, foi o momento de ir a campo, com as participantes conhecendo os sistemas agroflorestais da Muvuca Agroflorestal e do Sítio Florbela, ambos no Sul da Ilha de Santa Catarina. No Sítio Florbela elas também conversaram sobre comercialização.  

De volta à sede no Cepagro na 4a feira, as mulheres conversaram com Eduardo da Rocha, representante da nossa organização em diversos fóruns e conselhos, justamente sobre incidência política.

Na parte da tarde, elas visitaram a Horta Comunitária Madre Siembra, no CRAS Continente II, onde puderam trocar informações, experiências, abraços e lágrimas com as companheiras venezuelanas que participam da horta. A conexão entre as mulheres foi imediata: no idioma, na afetuosidade latina, na escuta empática. E o trabalho na horta teve um gás especial, já que as compañeras pegaram junto na limpeza e plantio dos canteiros. “Acho muito interessante o que está sendo feito pelas irmãs venezuelanas. Este é um espaço público onde elas podem cultivar e colher, levar para casa o alimento e já têm um espaço certo para isso”, disse Ana Mercedes.

Na 5a feira elas saíram da Ilha e foram ao Assentamento Comuna Amarildo de Souza, experiência de produção agroecológica coletiva e baseada na Reforma Agrária em Águas Mornas. De lá, partiram para o Sítio Aimotuá, em Anitápolis, cultivado pelas agricultoras-agrônomas Cátia Rommel e Daphné Arenou. 

Fechando a semana de intercâmbios, o grupo visitou a Feira do CCA e conversou com o Laboratório de Comercialização da Agricultura Familiar (LACAF), podendo conhecer mais sobre as Células de Consumidores Responsáveis. 

Na despedida, muita emoção e afetuosidade latinas. “A todas as mulheres daqui, a todas as mulheres que visitamos, muito obrigada, amamos muito tudo e as levamos em nossos corações”, disse a agricultora Yolanda Leon, que integra a Asocimucam e viajou pela primeira vez de avião para vir ao intercâmbio. Para ela, “Agroecologia é o bem viver e o fortalecimento de cada um de nossos lares. Não apenas fortalecemos nossos lares, mas também nos fortalecemos frente às mudanças climáticas e muitos aspectos. Carrego a Agroecologia no coração, e de nossa alma amamos a Agroecologia.”