por Carú Dionísio
“A agroecologia não é um retrocesso, é um avanço”. Com a confiante simplicidade de quem fala por experiência própria, a agricultora Catarina Gelsleuchter, de Angelina, desconstrói um dos principais mitos associados à agricultura ecológica: o de que a agroecologia seria um retorno aos duros tempos em que eram poucas as ferramentas para o  trabalho no campo, que só poderia ser facilitado com o uso de agrotóxicos. Em consonância com a fala da agricultora, o desenvolvimento de técnicas de recuperação de solos e manejo biológico de propriedades através da conservação da agrobiodiversidade vem mostrando que é possível, sim, produzir alimentos em sintonia, e não contra, a natureza.
Membros do Grupo Terra Viva de agroecologia, Catarina e seu marido, Celso, têm sua propriedade certificada pela Rede Ecovida de Agroecologia há quase dois anos. No sítio “Recanto da Amizade” eles cultivam mandioca, cana-de-açúcar, mel e pera, matérias-primas processadas no engenho artesanal a roda d’água que eles mantêm ativo, produzindo farinha de mandioca, polvilho, melado e geleias. O casal esteve reunido com outras dezenas de famílias de agricultores durante os dias 11 e 12 de novembro na comunidade do Pinheiral, em Major Gercino, durante o 8º Encontro Ampliado do Núcleo Litoral Catarinense da Rede Ecovida de Agroecologia.  Pesquisadores, estudantes, representantes do poder público e a equipe técnica do Cepagro também participaram dos debates e oficinas do encontro, promovido pelo Grupo Associada, que reúne famílias de Major Gercino e Nova Trento. O evento contou com o apoio do Cepagro/FRBL, da Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente de Major Gercino e do Sindicato de Trabalhadores Rurais local.
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A mesa de abertura do evento foi composta pela coordenadora do Núcleo Litoral Catarinense, Claudete Ponath; o coordenador do Grupo Associada, Ernande Stolarczk; o representante da Epagri local, Remy Simão; os Secretários da Agricultura de Major Gercino e Nova Trento, Valdecir Marchi e Saulo Voltolini; a presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Major Gercino, Marlene Fuck e o representante do Cepagro, Marcos José de Abreu.
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Paralelamente às programações, a Feira de Saberes e Sabores, uma tradição dos encontros da Rede Ecovida, celebrava a agrobiodiversidade local.
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Como parte das ações do Projeto de Fomento à Assistência Técnica para fumicultores visando a transição agroecológica que o Cepagro está executando no Alto Vale do Rio Tijucas com o apoio do Ministério Público de Santa Catarina, foi realizado um Seminário de Diversificação Agrícola durante o Encontro. Representando o Ministério do Desenvolvimento Agrário, a engenheira agrônoma Christianne Belinzoni de Carvalho traçou um panorama sobre questões em escala global que afetam a produção de tabaco.  Ela ressaltou o caráter inclusivo, e não proibitivo, do Programa Nacional de Diversificação em Áreas Cultivadas com Tabaco. “O problema não é plantar fumo, mas é depender só dele. Quem está satisfeito plantando fumo, tem que continuar. O nosso foco é no agricultor que não está fazendo dinheiro ou está tendo problemas de saúde por conta da produção de fumo”, explicou.
Outra contextualização importante neste sentido foi trazida pela engenheira agrônoma Gisa Garcia Barreto, extensionista rural do Cepagro. Baseada em dados coletados pela pesquisadora Fernanda Maschietto, da Escola Superior de Agronomia de Montepellier (França), e do trabalho de campo do projeto de Fomento à Transição Agroecológica junto a Fumicultores que o Cepagro está executando na região, Gisa apresentou as principais motivações e desafios relatados por fumicultores entrevistados na pesquisa. Na primeira categoria, os eixos principais são: malefícios à saúde advindos da atividade produtiva, caracterizada por ser bem penosa; insatisfação com a classificação do fumo; desânimo com a falta de mão de obra. Dentre os desafios, um dos mais marcantes é a comercialização, principalmente se considerarmos o fato de que a garantia de compra da produção acaba sendo um dos principais motivos alegados pelos agricultores para permanecer produzindo tabaco.
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Compreender como as práticas agrícolas foram sendo historicamente construídas é fundamental para diminuir a dependência em relação a técnicas e culturas que impactam negativamente a saúde dos trabalhadores e trabalhadoras e o meio ambiente. Neste sentido, a bióloga e extensionista rural do Cepagro, Marina Ferreira Campos Pinto, apresentou uma linha do tempo sobre a agricultura no Alto Vale do Rio Tijucas. O material foi construído de forma participativa com os agricultores, durante a pesquisa de mestrado que Marina realizou na região em 2012 e 2013. O trabalho também levantou dezenas de espécies e variedades de alimentos cultivados nos quintais das famílias e que circulam localmente através de redes de trocas de sementes.
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A equipe da Revolução dos Baldinhos também marcou presença no evento, comercializando seu composto e ministrando uma oficina sobre compostagem. A presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Major Gercino, Marlene Fuck (esq.), reconheceu o potencial da tecnologia social de gestão comunitária de resíduos orgânicos que os revolucionários vêm implementando em Florianópolis e convidou-os para participar de mais atividades com agricultores na comunidade.
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As equipes do Camping do Rio Vermelho e do Projeto Carbono Social em Rede distribuíram gratuitamente mudas de espécies nativas e frutíferas para os participantes.
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O colorido da mesa do almoço demonstra a diversidade de alimentos cultivados pelos agricultores da Rede.
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Os resíduos do preparo e consumo das refeições do Encontro foram coletados pela equipe da Revolução dos Baldinhos, que deu uma oficina sobre compostagem na propriedade da família Stolarczk.
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Agricultores do rural e do urbano compartilharam conhecimentos e aprenderam mais sobre como aproveitar os resíduos orgânicos em suas propriedades.
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O professor Oscar José Rover, do CCA/UFSC, mediou uma oficina sobre Comercialização com a presença de produtores, representantes da Epagri e comerciantes. Nas discussões, o fortalecimento do Box 721 da Ceasa e do Circuito de Comercialização da Rede Ecovida foi um dos temas principais.
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Outra demanda identificada pelo Núcleo é a necessidade de reforçar a capacitação dos membros de comissões de verificação de certificação participativa. Assim, as oficinas sobre o Sistema Participativo de Garantia já se tornaram uma constante nos encontros do Núcleo Litoral Catarinense. Nesta edição, a discussão foi realizada na propriedade de Alcides e Célia Will, na localidade do Rio Veado, em Nova Trento. A produtora Cordélia Kiener, do grupo Harmonia da Terra, de Rancho Queimado, coordenou a discussão.
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A oficina de SPG foi dividida em dois momentos: análise da documentação necessária para certificação e rodada de campo para conhecer a propriedade, onde verduras agroecológicas são cultivadas em uma estufa. Também foram realizadas oficinas sobre Boas Práticas de Pós-Colheita e Bancos de Sementes Comunitários.