texto e foto – Carú Dionísio
Da história da convivência humana com seus detritos a uma visita ao Centro de Tratamento de Resíduos Sólidos da Comcap, os participantes da 1ª Formação em Gestão Comunitária de Resíduos Orgânicos que acontece durante esta semana no Camping do Rio Vermelho tiveram um contato teórico e prático com a compostagem, visitando experiências de pequena, média e larga escala. Além de conhecerem mais sobre o processo de decomposição da matéria orgânica e sua aplicação no Brasil e em outros países, eles visitaram os pátios do Camping do Rio Vermelho, na 3ª feira, e os da Comcap, do Parque Ecológico do Córrego Grande (foto) e do SESC Cacupé, na 4ª. Os três últimos foram percorridos com o apoio logístico da Superintendência Federal no Estado de Santa Catarina do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Nesta 6ª, a saída de campo terá como destino a Revolução dos Baldinhos.
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A diferença entre “resíduo” – o que ainda pode ser reaproveitado ou reciclado – e “lixo” –  que não tem mais nenhum aproveitamento – foi um dos tópicos abordados pelo engenheiro agrônomo Camilo Teixeira, da equipe técnica do Camping do Rio Vermelho, na palestra introdutória sobre compostagem que ele ministrou durante o curso.  “Mas a própria legislação não abarca ainda esta diferenciação”, afirmou, lembrando como alguns textos legais ainda falam em “lixo orgânico”. Entretanto, como explicou o agrônomo Júlio Maestri na sequência: “Podemos tratar o resíduo como matéria prima, que ainda pode ser transformada”.
Se esta lógica fosse colocada em prática, a quantidade de “lixo” que circula em caminhões pelas cidades poderia cair pela
metade, já que cerca de 51% do montante que chega atualmente aos aterros brasileiros é constituído de matéria orgânica. Misturados a lâmpadas quebradas, pilhas vencidas, restos de produtos de limpeza e lixo hospitalar – dentre outras centenas de tipos de rejeitos contaminantes – os resíduos orgânicos em processo de decomposição tornam-se poderosos agentes diluidores de metais pesados e outras substâncias tóxicas. Resultado: emissão de gases e efluentes líquidos poluentes, com impacto socioambiental profundamente negativo nas comunidades do entorno dos aterros, além da atmosfera e dos lençóis freáticos.
A técnica em produção orgânica Diana Masis, da Costa Rica, cobre a leira com serragem durante uma das vivências práticas da Formação
Junto a folhas secas, serragem, capim, palhada, bactérias, minhocas e fungos, contudo, os mesmos resíduos são transformados em adubo, a partir de um processo com mínimo impacto ambiental quando feito corretamente. Estimulando a vida, a compostagem pode então ser feita por tempo indefinido num mesmo espaço; já um aterro tem prazo de utilidade determinado, demandando uma contínua expansão de área.
O tratamento local dos resíduos também pode gerar uma reflexão social sobre a própria geração deles e o desperdício, comentou a agrônoma Mônica Auga, que está participando da Formação. “Quando você está vendo o lixo, passa a refletir, questionar. A partir daí é que pode sair uma mudança”, disse.
Os participantes não perderam nenhum detalhe das apresentações
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Do papel à prática, após as exposições da equipe Técnica, o grupo visitou as leiras de compostagem do Camping do Rio Vermelho, onde é tratado o resíduo orgânico gerado pelo restaurante e pelos campistas. Durante os três meses da temporada de verão, 8 toneladas de material foram recebidas ali. Na vivência, os participantes montaram uma leira para depositar os resíduos produzidos durante os primeiros dias da Formação, contando com o apoio dos agrônomos Guilherme Bottan e Ícaro Pereira e do biólogo André Ganzaroli Martins.
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???????????????????????????????Leira quente, compostagem bem feita: a geração de calor é um dos principais meios de verificar se a decomposição da matéria orgânica está funcionando ou não. Isso porque ela é feita por bactérias chamadas aeróbicas, que precisam de ar para viver. A atividade delas aumenta a temperatura e acelera a transformação dos resíduos em composto.
???????????????????????????????Na 4ª feira, após uma apresentação sobre a compostagem institucional com os agrônomos Marcos José de Abreu e Victor Elias, o grupo partiu para as visitas aos pátios de compostagem de médios e grandes geradores. A primeira parada foi o Centro de Tratamento de Resíduos Sólidos (CTRes) da Comcap, com o acompanhamento da engª sanitarista Rita de Cássia Rodrigues, gerente da divisão. Através de uma parceria com a Associação Orgânica, em janeiro deste ano foi feito um pátio de compostagem no CTRes com 6 leiras de 30 metros de comprimento por 4 metros de largura, que atualmente recebem 3 toneladas diárias de resíduos orgânicos coletados em 20 pontos, entre restaurantes, hotéis e mercados. “Os grandes geradores são o nosso foco”, afirmou o agrônomo Gerson ???????????????????????????????Konig Júnior, membro da Associação que coordena a coleta dos resíduos e a operação das composteiras. “Os pontos de coleta surgiram da demanda da Associação de ter material para tratar e dos geradores de tratarem seus resíduos”, explicou. Complementando o ciclo das matérias orgânicas urbanas, a compostagem também atende à necessidade da própria Comcap de destinar corretamente os resíduos das podas de árvores e cortes de grama da cidade, que são triturados no CTRes e servem para estruturar e manter a aeração das leiras de compostagem.
O próximo pátio visitado, no Parque Ecológico do Córrego Grande, tem proporções menores, mas representa uma importante ferramenta de educação ambiental. Atendendo à população do bairro, que traz os resíduos para um Ponto de Entrega Voluntária (PEV) instalado na entrada do Parque, a compostagem realizada ali faz parte do Projeto Família Casca, administrado pela ??????????????????????????????????????????????????????????????Fundação Municipal do Meio Ambiente (Floram). Complementando o processo realizado em 10 leiras, são usados também 3 minhocários. “O resíduo fica 2 meses na composteira e 1 mês no minhocário”, explicou o engº ambiental Gilberto Napoleão, assessor técnica da Diretoria de Gestão Ambiental da Floram. Ele conta que o processamento feito pelas minhocas melhora a qualidade do adubo, que depois pode ser recolhido gratuitamente pela comunidade. Como as “ajudantes” da compostagem se multiplicam embaixo da terra rica em matéria orgânica, também acabam sendo distribuídas para os moradores que desejam ter um minhocário em sua casa ou apartamento.
???????????????????????????????Voltando às grandes escalas, o roteiro da saída de campo foi finalizado no pátio do SESC Cacupé, que contou com a assessoria da equipe da Revolução dos Baldinhos para sua instalação, em 2012. Integrada ao programa de educação do SESC, a compostagem está ligada a outras políticas de mitigação de impacto ambiental e eficiência energética da instituição. As leiras recebem entre 800kg e 1 tonelada de resíduos diários, vindos dos restaurantes de 4 unidades: Cacupé, Prainha, Estreito e Balneário Camboriú. De acordo com o agrônomo Alexandre Cordeiro, que recepcionou o grupo, a compostagem necessita de manutenção diária, realizada por pelo menos 3 trabalhadores. O adubo produzido é distribuído gratuitamente e ???????????????????????????????também usado em um viveiro de mudas de plantas comestíveis e ornamentais.
Na 5ª feira de manhã os participantes fizeram uma avaliação coletiva das visitas, compartilhando suas impressões. Entre sugestões, críticas e elogios às práticas visitadas, a ideia de incentivar os participantes da Formação a colocar a mão na composteira e visitar experiências diversas foi vista positivamente. A engenheira florestal Layse Ennes, da prestadora de serviços HortiNutri, de Brasília, é um exemplo. Ela destacou o trabalho da Associação Orgânica no pátio da Comcap, manejando os resíduos de grandes geradores e gerando caminhões de adubo: “Isso era algo que eu nem viabilizava. Foi um ganho ver a coisa de forma tão viável”. Além disso, “ver a educação ambiental sendo trabalhada dentro de um parque ecológico na cidade, onde as pessoas podem entregar seus resíduos orgânicos e coletar adubo, e contagiar os outros que passam por ali, também foi muito marcante”.