Da nascente até a foz. Nos últimos meses, seis turmas de sextos e oitavos anos da rede municipal de educação de São José estiveram empenhados em uma missão: conhecer a Bacia do Rio Forquilhas. A partir de saídas de estudo, cada turma analisou um ponto do rio, observando desde características químicas e físicas da água, até a paisagem local e a relação entre rio e ocupação urbana. Os resultados foram apresentados no dia 5 de dezembro, durante o 2º Intercâmbio Educando com a Horta, realizado na Escola Municipal do Meio Ambiente.

Nossa água vai para o mar

O professor de ciências da Escola Municipal do Meio Ambiente, Carlos Danilo de Oliveira Pires, que acompanhou as saídas de estudo no rio, explica que, mais do que a água, a iniciativa abordou a questão da urbanização, da poluição, da inter relação entre ser humano e natureza e o que tudo isso tem a ver com as mudanças climáticas. “Nós aqui em Santa Catarina estamos sentindo muito os impactos das mudanças climáticas e a água está totalmente relacionada a esses impactos. Eles estudaram as questões das enchentes e deslizamentos, qual a causa e o impacto disso na realidade deles, no bairro, na escola. É um tema que não se esgota no projeto, mas é uma faísca para esses alunos estarem olhando um pouco mais para a água”.

Além da sensibilização sobre a temática, a dinâmica proposta pelo projeto foi bem avaliada tanto por estudantes como por professores, em especial por permitir a experimentação prática, fora da sala de aula, dos conteúdos trabalhados no currículo escolar. “Me sinto privilegiado de estar participando e contribuindo com o projeto e proporcionando para os alunos essa experiência que é muito rica, porque dá a possibilidade de realmente colocar em prática o método científico, que é estudado nas disciplinas de ciência”, conta Moisés Ubiratã Schmitz Nunes, que leciona ciências no Centro Educacional Municipal (CEM) Prof. Amélia Inácia de Medeiros Ludwig.

Além das visitas de estudo e do desenvolvimento dos trabalhos que foram apresentados no intercâmbio, os alunos deixaram a marca do projeto pelas ruas da cidade, com intervenções artísticas nos bueiros próximos às escolas. “Trazer a arte e a conscientização ambiental para que quando as pessoas passem por ali, pensem: ‘Poxa, nossa água vai para o mar?’. Se nós jogarmos resíduos dentro do bueiro, ele também vai para o mar. Então o objetivo principal é trabalhar esse dom artístico que as crianças têm e também conscientizar a população para que evitem jogar resíduos nos bueiros, porque eles têm uma função bem importante”, explica Cinthya Persike, diretora da Escola Municipal do Meio Ambiente de São José.

Educando e Transformando com a Horta

O “Nossa água vai para o mar” foi apenas uma das atividades possibilitadas pelo projeto “Educando e Transformando com a Horta”, desenvolvido pelos educadores Karina Smania De Lorenzi e Henrique Martini Romano, técnicos do Cepagro. Iniciado em 2020, o projeto foi renovado em 2022 e se encerra este ano.

Desde a renovação do projeto, foi prevista a realização de uma iniciativa comunitária, onde as escolas pudessem incidir positivamente na comunidade do entorno. E foi a partir da parceria com a Escola do Meio Ambiente que surgiu a ideia de juntar estudantes e professores das escolas em um projeto para estudar e conhecer mais de perto a realidade da bacia hidrográfica do Rio Forquilhas, onde as escolas estão inseridas. “Temos sempre que lembrar que água é alimento, ou mais que isso, que a água é essencial à vida humana e de todos os seres vivos, mas a nossa sociedade ainda não se deu conta do que está fazendo com os rios e com o oceano. Daí a importância de trazermos esse tema da água para o projeto.”, conta Henrique.

Além da intervenção comunitária, outro diferencial do projeto em 2023 foi a realização de uma formação continuada sobre a metodologia de hortas pedagógicas para professores da rede municipal, conforme explica Karina: “Sabendo da finalização do projeto em 2023, pudemos, através dessa formação realizada entre abril e dezembro, preparar os professores para dar continuidade em ações relacionadas a compostagem, hortas agroecológicas e educação alimentar”.

Foto de grupo onde estão os professores e professoras que participaram da formação continuada em hortas pedagógicas.

Ao longo de todo o ano letivo, os alunos e alunas puderam aprender na prática sobre o ciclo do alimento, indo do plantio de uma horta agroecológica, passando pela educação alimentar, com a degustação das colheitas, até a gestão de resíduos através da compostagem. De fevereiro a dezembro de 2023, foram compostados mais de 3 toneladas de resíduos, ou seja, mais de 3 mil quilos de resíduos desviados do aterro sanitário, reduzindo a emissão de carbono e, além disso, gerando composto para os cultivos da horta. O projeto envolveu cerca de 45 professores, 800 estudantes e mais de 70 profissionais das escolas.

Nosso desejo é que a Agroecologia e o pensamento ecológico siga presente no cotidiano das escolas mesmo com o encerramento do projeto, afinal a Agroecologia transforma a educação, educação transforma as pessoas, as pessoas transformam o mundo.