por Fernando Angeoletto – coordenação de comunicação (Cepagro)
Na última quinta, mais de 40 representantes dos 16 grupos do Núcleo Litoral Catarinense (Rede Ecovida) reuniram-se na propriedade agroecológica de Acácio Schroeder, em Joinville (SC), para uma oficina prática de visita de olhar externo – uma das etapas do Sistema Participativo de Garantia, método de certificação de alimentos orgânicos que substitui empresas de auditoria pela responsabilidade compartilhada entre os produtores, devidamente cadastrados e homologados pelo MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento).

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Participantes acompanham a fala de Francisco Powell, do MAPA


Representando a superintendência catarinense deste Ministério,  o agrônomo Francisco Powell compartilhou na oficina o seu olhar sobre as principais inconformidades que encontra no trabalho de fiscalizar o rigor das auditorias, tanto as de empresas de terceira parte quanto as participativas. O objetivo das colocações, como todo o processo envolvendo a certificação participativa, é de envolver os produtores no aprimoramento de suas técnicas, resultando em mais eficiência e credibilidade no sistema como um todo.
Destacam-se, segundo Powell, os seguintes problemas de maneira mais recorrente: barreiras insuficientes (fronteiras verdes para proteger possíveis “derivas” de agrotóxicos, vindos de cultivos convencionais); excesso de plásticos (coberturas, sacarias, restos de mangueiras), que podem tornar-se poluentes; armazenamento inadequado de insumos; acondicionamento inadequado de produtos para o transporte; uso de insumos não registrados pelo MAPA.
A seguir, a agricultora de Piçarras (SC) Claudete Ponath, coordenadora do Núcleo Litoral Catarinense, apresentou um extenso roteiro de perguntas que devem ser consideradas nas visitas de verificação. Essas visitas são articuladas e realizadas entre os membros dos grupos, gerando relatórios que podem homologar ou não o requerente à certificação da produção orgânica. “Mais que uma mera fiscalização sobre o uso de agroquímicos, o olhar da Rede Ecovida abrange a preocupação com as nascentes, o tratamento de resíduos gerais, a adequação da reserva legal e a justa remuneração dos trabalhadores”, recorda Claudete.
Seu Acácio mostra área usada antigamente para agricultura, deixada em descanso para recuperação da Mata Atlântica

Seu Acácio mostra área usada antigamente para agricultura, deixada em descanso para recuperação da Mata Atlântica


Como atividade prática, o anfitrião Acácio Schroeder guiou os participantes a uma visita técnica por sua bela propriedade, à margem do Rio Piraí, que corre desde a vizinha Serra Dona Francisca. É ali que ele realiza os cultivos agroecológicos de hortaliças de época, vagem, mangarito, aipim e abacaxi. “Além da criação de galinha angola, ganso, pato, marreco e peru”, completa Schroeder, junto a seu Tobata todo com comandos hidráulicos e um motor de arranque elétrico que ele mesmo adaptou.
Funcionário aposentado do setor metal-mecânico, ocupação que envolve grandes contingentes na industrializada Joinville, o seu Acácio devotou-se à viver da terra na propriedade que é da família desde 1959. Deste os tempos do pai ele se lembra dos cuidados empíricos com a natureza. No ano de 2007, participou de um Encontro Ampliado da Rede Ecovida, identificando seus saberes e histórias com milhares de famílias do sul do Brasil. Desde então, orienta seus trabalhos pelo conhecimento sistematizado na Rede, participando ativamente das reuniões de grupo.
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Os cuidados devem estender-se inclusive ao uso de implementos terceirizados, lembram os verificadores


Através de sugestões partilhadas logo após a visita, recomendou-se o adensamento de uma das barreiras verdes laterais – podendo inclusive pensar em um corredor ecológico com espécies nativas de valor comercial, como o açaí de juçara, sugere o veterano produtor Glaico Sell, de Paulo Lopes. A limpeza de implementos terceirizados, como o trator utilizado esporadicamente no preparo de terrenos, deve ser sempre exigida – evitando sementes indesejadas ou resíduos de agroquímicos, alertam os verificadores.
Finalizando as atividades, os grupos articularam entre si as próximas visitas de verificação, visando a renovação dos certificados, que tem validade máxima de 1 ano, e agregando novas famílias que incorporam-se ao processo. A dinâmica vai movimentar os agricultores em visitas por todo o território do Núcleo Litoral Catarinense, que transcende a faixa litorânea de Garopaba à Joinville, tendo a oeste agricultores no Alto Rio Tijucas, Alto Rio Itajaí, encostas da Serra do Tabuleiro e o município de Jaraguá do Sul.
Saiba Mais: Volume 2 da Coleção Saber na Prática – Certificação Participativa
A seguir, imagens da oficina realizada em 09/04.