Realizada nos dias 11 e 12 de agosto, a atividade reuniu 15 famílias beneficiárias do projeto de diversificação na fumicultura que o Cepagro executa nos municípios de Leoberto Leal, Major Gercino e Nova Trento com apoio do Fundo para Reconstituição de Bens Lesados do Ministério Público de Santa Catarina. Foram visitadas propriedades e agroindústrias agroecológicas em Rancho Queimado e Santo Amaro da Imperatriz, além do Box 721 de Orgânicos da Ceasa em São José. O objetivo do intercâmbio foi mostrar que é possível produzir de maneira sustentável, além de incentivar a troca de conhecimentos com quem já vem trabalhando com sistemas agroecológicos. A ideia é possibilitar a formação de redes de agricultores sob novas formas de organização para a cooperação entre as famílias.
texto e fotos – Ana Carolina Dionísio, Gisa Garcia e Marina Pinto
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A primeira parada do intercâmbio, ainda na manhã da terça-feira, foi na propriedade de Pedro Eger em Rancho Queimado, que faz parte do grupo Harmonia da Terra da Rede Ecovida de Agroecologia. O agricultor mostrou os canteiros onde produz morangos orgânicos, explicando como é feito o preparo do solo, a adubação orgânica, a compra coletiva de mudas, a colheita, pós-colheita e custo de produção. Quanto à comercialização, a família destina sua produção para uma rede de supermercados local, algumas feiras e merenda escolar. Os que não atendem ao padrão de comercialização in natura vão para a agroindústria da região, servindo de matéria prima para deliciosas geleias e polpa de frutas. “Nenhum morango é perdido e recebemos muitos pedidos de encomenda, mas não damos conta de contempla-los”, disse Pedro Eger, que também ressaltou que “os agricultores estarem organizados é fundamental para que tenham força na conquista de mercados e no acesso a políticas públicas junto aos governos locais”.
IMG_0110A próxima visita, ainda no período da manhã, foi na agroindústria do Rancho EcoFrutícola, outro nó local da Rede Ecovida de Agroecologia. Na propriedade também são cultivados morangos orgânicos, mas na forma de canteiros suspensos e protegidos, um sistema diferente da propriedade anterior. De acordo com o  proprietário Samuel Weigert, a técnica cria um ambiente menos propício ao desenvolvimento de fungos e um maior controle no fornecimento dos nutrientes necessários para o desenvolvimento da cultura. Os participantes também conheceram os locais onde os morangos são selecionados, embalados e destinados para polpas ou geleias. Samuel relatou que absorvem a produção de outros agricultores orgânicos, mas que a demanda é muito maior que a oferta.
A última parada do primeiro dia de intercâmbio foi no BOX 721 da Ceasa, o único ali que comercializa exclusivamente produtos orgânicos.
O primeiro dia de intercâmbio terminou com uma visita ao Box 721 da Ceasa, o único ali que comercializa exclusivamente produtos orgânicos. O agricultor Elton Laureth e o técnico do Cepagro Francys Luiz Pacheco, que fazem a gestão da iniciativa, explicaram um pouco da logística e funcionamento do Box, enquanto o coordenador do projeto Charles Lamb ressaltou o caráter coletivo do empreendimento.
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A maioria dos agricultores não conhecia a CEASA e não tinha ideia do tamanho da movimentação comercial de alimentos que acontece naquele espaço. Um deles afirmou: “Estamos acostumados a receber o comprador em casa, mas com a desvantagem de que ele é que coloca o preço, aqui realmente podemos ficar mais próximos do cliente e possibilitar a negociação”.
DSC_0263Após um belo fim de tarde e pernoite no Hotel do SESC Cacupé, a caravana partiu na manhã seguinte para Santo Amaro da Imperatriz. O destino foi a chácara Recanto da Natureza, localizada na comunidade da Vargem do Braço. A propriedade pertence ao Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, e recentemente os órgãos ambientais determinaram que no local só serão permitidas atividades agrícolas feitas de forma ecológica. Não foi a legislação ambiental, contudo, que levou as seis famílias proprietárias da chácara a entrarem na produção orgânica. Foi um episódio de forte intoxicação por agrotóxicos, ainda no início dos anos 90, que estimulou o agricultor Amilton Voges a fazer sua revolução agroecológica.
DSC_0244Os participantes do intercâmbio visitaram algumas áreas da chácara, que possui 22 hectares cultivados. Amilton mostrou como adaptou as técnicas agroecológicas para sua realidade: “Quando resolvemos plantar orgânico, tive que ir para outras propriedades longe daqui para aprender as técnicas e também fiz muitos cursos, mas muito do conhecimento tem que ser adaptado para nossa realidade e particularidade. Na agricultura orgânica é assim, o planejamento é fundamental e a toda hora temos que ter ideias e experimentar coisas novas”. Ainda complementou que a primeira técnica que realizou foi a adubação verde, que “proporcionou a desintoxicação das nossas terras e até hoje nos utilizamos dessa técnica como geradora de nutrientes para as hortaliças”.
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A chácara também tem uma agroindústria de pré-processamento das hortaliças, a qual foi construída por uma demanda de mercado. Eles abastecem restaurantes e mercados da Grande Florianópolis e também a merenda escolar. Como a demanda é maior que a produção, a agroindústria também compra hortaliças de outros agricultores orgânicos locais.
DSC_0274Amilton expôs que a produção da agricultura orgânica é constantemente fiscalizada pela CIDASC e por isso realiza todo o registro da produção que entra para pré-processamento. A garantia da qualidade dos produtos, entretanto, vai além dos controles burocráticos. Para Amilton, “uma vez que o agricultor experimenta fazer agricultura orgânica, ele nunca mais volta a usar agrotóxicos e insumos químicos”. Hoje as famílias se orgulham de seu trabalho e de serem exemplos vivos de que uma agricultura sustentável dá certo.