As riquezas naturais e culturais do Estado de Santa Catarina, do ponto de vista da biodiversidade de matérias-primas gastronômicas e seus usos tradicionais e contemporâneos, será apresentada ao mundo no próximo Terra Madre/Salone del Gusto, evento internacional do movimento Slow Food que acontece de 25 a 29/10 em Turim (Itália). A delegação catarinense é composta por chefs de cozinha, agricultores familiares, proprietários de engenho de farinha, extrativistas de berbigão e pinhão, pesquisadores, jornalista e delegados do Congresso Mundial do Slow Food.

Ao lado de outros 9 territórios da América Latina, Europa e Norte da África, o Litoral Catarinense será descortinado no ambiente da Expomovil, uma mostra itinerante de valorização dos produtos e saberes ligados à gastronomia com forte identificação cultural. Realizada pelo Ponto de Cultura Engenhos de Farinha, a exposição, que teve curadoria e produção pelo jornalista Fernando Angeoletto e a historiadora Gabriella Pieroni, será composta por um vídeo (disponível no link abaixo), textos e fotos retratando o território, com foco nos engenhos artesanais e ranchos de pesca. O espaço de visitação será ambientado com artesanatos e artefatos de trabalho destes espaços.

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Outro contribuição importante da delegação catarinense será a participação no Congresso Internacional do Slow Food, que ocorre paralelamente ao Terra Madre / Salone del Gusto. Através deste espaço deliberativo, serão definidas as ações da Fundação Slow Food para os próximos anos, tendo em vista seus princípios de discutir em profundidade o alimento e suas potencialidades na manutenção da fertilidade do solo, da salubridade do ar e da água, na preservação da biodiversidade e da paisagem e na promoção de saúde, em processos que envolvem o conhecimento, a memória e a sociabilidade. Como delegados de Santa Catarina para o Congresso, foram eleitos o agrônomo Marcos José de Abreu (coordenador urbano do Cepagro) e o gastrônomo Bernardo Simões (líder do Convivium Mata Atlântica), representando, respectivamente, os segmentos de Agricultura Urbana/Agroecologia e Juventude Slow Food no Brasil.

A farinha de mandioca polvilhada catarinense, representada pelo casal Celso e Catarina Gelsleuchter (proprietários de Engenho Artesanal e integrantes do Ponto de Cultura Engenhos de Farinha), será exposta num estande do Salone del Gusto dedicado à mandioca e araruta, na área da América Latina. O estande possui uma cozinha de apoio, onde os chefs catarinenses Ubiratan Farias, Fabiano Gregório e Philippe Belletini produzirão receitas tradicionais e contemporâneas para degustação dirigida ao público visitante. Espaço semelhante será ocupado pela serra catarinense, através de sua Fortaleza do Pinhão, representada pelo agrônomo Anderson Silveira (cooperativa Ecoserra) e um jovem extrativista da região de Lages.

A cerimônia de abertura do Terra Madre e Salone del Gusto acontece às 18:30 do dia 24/10, no Palaolimpico de Turim (região de Piemonte, Itália), tendo como atração principal o pronunciamento do brasileiro José Graziano da Silva, diretor geral da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), ex-ministro extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome e um dos principais mentores do programa Fome Zero. Realizado de 25 a 29/10, o evento ocupará uma área de 80.000 m2, contando com 1.000 expositores provenientes de 100 países. Superlativo em todos os sentidos, o evento é ainda composto por conferências, laboratórios de degustações, atividades educativas e culturais, dentre outras.

Contato de imprensa: Fernando Angeoletto (comunicacao@cepagro.org.br / 48 9633-4007)

Imagem integrante da ExpoMovil/Litoral Catarinense que será apresentada na Italia. Clique na imagem para ver o álbum completo.

Para saber mais: fragmentos do documento “A centralidade do alimento”, que norteia o Congresso Internacional do Slow Food neste ano 

“De acordo com dados da FAO, 75% das variedades agrícolas desapareceram no último século; e três quartos da comida que os ocidentais colocam hoje  no prato,  provêm  de apenas  doze  espécies de plantas e  cinco  espécies de animais”.

“Quando houver um sistema produtivo que põe em risco a sobrevivência do planeta, deve-se  contrapor a visão do alimento segundo o Slow Food e o Terra Madre: o alimento não pode e não deve se tornar uma ameaça para a biodiversidade”.

“O alimento produzido em grande escala, a agroindústria, a monocultura e a agricultura química são os principais responsáveis pelo desastre. A agricultura local, sustentável, baseada em técnicas e espécies autóctones, que não abusa de produtos químicos, que não  desperdiça  recursos  hídricos,  que  não  aposta apenas  na  quantidade,  é  uma ferramenta eficaz para corrigir a atual tendência. Não podemos continuar assim. Se a agricultura se salvar, e salvar o planeta, será graças à dimensão local, às variedades tradicionais e autóctones, à pequena escala. Não há outro caminho. As comunidades do alimento do Terra Madre são um exemplo deste modelo valioso”.

“Assim  como  as  comunidades  reivindicam  a  soberania alimentar,  com  a  mesma  convicção  deve  ser  reconhecida  a  soberania  sobre  os conhecimentos que se desenvolveram ao longo do tempo a serviço do bem comum. O intercâmbio desses conhecimentos entre as comunidades do Terra Madre é a missão mais desafiadora e gratificante do nosso movimento. Não pode existir democracia participativa sem o reconhecimento e a divulgação dos conhecimentos alimentares das comunidades, para o bem-estar das futuras gerações e do mundo natural.

Precisamos de pessoas no campo, é necessário promover uma volta dos jovens à agricultura. Há a necessidade de disponibilidade de terra, ferramentas, infraestruturas, simplificação  burocrática,  financiamentos,  educação  adequada  e  a  garantia  da transmissão de saberes tradicionais. Mas é preciso, acima de tudo, restituir o orgulho e a dignidade ao trabalho agrícola, um dos mais úteis, delicados, importantes e – é preciso acrescentar – dos mais bonitos que existem. Produzir alimentos para si e para os  outros  é a forma  mais  pura  e completa  de devolver uma posição central aos alimentos, inserindo-se harmoniosamente nos sistemas naturais, interagindo com os mesmos  com  respeito,  para  preservá-los  e  fazê-los  evoluir,  obtendo  o  sustento necessário e uma gratificação que poucos trabalhos no mundo podem igualar”.

“A vegetação urbana pode tornar-se produtiva e não apenas decorativa. A agricultura nas proximidades das cidades é indispensável para construir sistemas de distribuição local de alimentos nas cidades, como os mercados rurais ou os grupos de compras. As periferias e os campos próximos das cidades podem voltar a servir a cidade,  fornecendo  alimento  local  e  sazonal  também  aos  centros  urbanos”.

O processamento  de  alimentos  também  precisa  voltar  às  origens,  isto  é,  voltar  aos saberes antigos e tradicionais, aos conhecimentos e aos ofícios que desaparecem junto com a biodiversidade e com o trabalho rural do qual dependem. Resgatar ofícios, voltar a aprendê-los e apoiá-los, despertar o sentimento mais profundo do artesanato, são outras formas possíveis de voltar à terra, tanto nas comunidades rurais, como nas grandes cidades”.

“A dimensão local respeita as exigências locais, e podemos nos tornar defensores ativos desta  dimensão,  produzindo  ou escolhendo  os  alimentos  que  comemos.  O  nosso Convivium e a nossa comunidade do alimento são lugares onde praticar e atuar para que a porção de sistema vivo que nos foi confiada, onde estamos inseridos, funcione de forma construtiva. É em escala local que se inicia a mudança, na prática”.

“Deve-se sublinhar que a pequena escala produtiva não é uma volta ao passado, mas uma busca de grande modernidade. Inclusive do ponto de vista meramente econômico: é provado que muitas economias de pequena escala produzem no mínimo tanto quanto os sistemas baseados em grande escala ou em escala global. São sistemas mais justos e sustentáveis de distribuição de riqueza e de bem-estar em todos os níveis, do pessoal ao global”.