A engenheira Flor Quintanilla é da equipe técnica da Fundación para el Desarrollo Socioeconómico y Restauración Ambiental (FUNDESYRAM), organização parceira do Cepagro no projeto Saberes na Prática em Rede, apoiado pela IAF. Flor esteve em Santa Catarina no início do mês, participando do Festival Santa Catarina Agroecológica e também conhecendo experiências agroecológicas no campo e na cidade. “Conviver com as famílias, conhecer suas experiências e o felizes que são promovendo a agroecologia me impactou e me encantou de verdade”, afirma a agrônoma.

 
“Desde que a MULHER domesticou o milho, isso já era Agroecologia. Esquecemos disso pela Revolução Verde, mas trabalhamos pra resgatar esses valores ancestrais”. Durante o Seminário MULHERES E AGROECOLOGIA, realizado no dia 6 de outubro, Flor falou sobre o trabalho na linha de gênero da organização, que envolve formações para as mulheres e também para os homens, afirma. “Mas aprendemos que, se trabalhamos só com as mulheres, não avançamos. Temos que trabalhar com as mulheres e com os homens também, porque vivemos numa sociedade em que aprendemos uma maneira de ser homem e uma de ser mulher. Então devemos desaprender esses papéis e voltar a aprender outros”, explica Flor.  Discussões sobre novas masculinidades, distribuição do trabalho doméstico e a importância de valorizar o autoconsumo na produção agroecológica são alguns dos pontos trabalhados. “Nosso enfoque de gênero é transversal: tudo o que fazemos, devemos colocar também a abordagem de gênero”, completa.

No giro pelas propriedades no interior de Santa Catarina após o Encontro do Núcleo Litoral Catarinense, Flor contou com a orientação da agricultora Claudete Ponath, do Núcleo Litoral Catarinense da Rede Ecovida de Agroecologia. Elas visitaram os sítios de Leonilda Boeing Baumann, em Santa Rosa de Lima, e de Cátia Cristina Rommel, em Anitápolis, ambas participantes do Seminário MULHERES E AGROECOLOGIA.  “Conhecer cada uma das experiências com essas mulheres e suas famílias realmente é um processo muito satisfatório, porque você conhece quão felizes estão fazendo seu trabalho na agroecologia. A agroecologia é uma forma de vida para elas”, avalia, emocionada.

No seu último dia no Brasil, Flor aproveitou para conhecer a Revolução dos Baldinhos. Além da metodologia de gestão comunitária e resíduos orgânicos, o protagonismo feminino  do projeto também chamou a atenção da agrônoma salvadorenha. Ela visitou as leiras de compostagem, a Associação de Recicladores, viu os Pontos de Entrega Voluntária espalhados pelo bairro e conheceu a agrofloresta urbana cultivada pela moradora Margarida Messiano dos Santos num canteiro à beira da BR 101. “Me chamou muita a atenção a sensibilização das famílias para separar os resíduos. O trabalho das companheiras Cíntia e Karol também é genial, percebe-se como elas conhecem muito bem as famílias. Isso mostra o interesse e a importância que o projeto tem para elas”, contou Flor. “Também as companheiras e companheiros que estão cultivando zonas verdes no bairro é algo maravilhoso. Estão plantando não só para elas, mas para toda a comunidade”, completa, referindo-se às células de agricultura urbana da Chico Mendes.

Para que a agroecologia e, sobretudo, o protagonismo feminino nela continue avançando, Flor reconhece que são necessárias cada vez mais políticas públicas, tanto de acesso a crédito fundiário e agrícola quanto iniciativas que visibilizem o trabalho das mulheres nesse campo. E deixa um recado: “Li um recado na casa de uma agricultora que dizia ‘Que seus sonhos sejam maiores do que seus medos’. Então, não desanimem! Sigam trabalhando, volto muito encantada com esses trabalhos geniais em agroecologia”.
HASTA PRONTO, COMPAÑERA!