A primeira oficina de horta agroecológica no Centro de Referência em Assistência Social (CRAS) do bairro Capoeiras, que aconteceu há pouco mais de um mês, já rendeu frutos. Nesta quinta-feira, 19 de julho, os agrônomos Karina Smania de Lorenzi e Ícaro Pereira, da equipe de Agricultura Urbana do Cepagro, voltaram ao CRAS para montar outro canteiro no espaço, que antes, era ocioso e acumulava entulhos. Dessa vez, a atividade contou com a participação das crianças do Centro Educacional Dom Orione, moradores dos bairros Capoeiras e Coqueiros, além do público da terceira idade que frequenta o CRAS.
Foi uma atividade intergeracional de trocas de saberes e experiências. A psicóloga do Centro de Referência, Alvira Bossy, conta que não é fácil integrar as gerações dessa maneira: “Às vezes a gente fica quebrando a cabeça pra tentar integrar esses públicos e a horta propicia isso. A gente vê que a criança se diverte pegando uma plantinha e colocando na terra e ao mesmo tempo um idoso consegue ajudar fazendo algo mais pesado. Um ensina sobre as plantas para o outro e essa troca de saberes acontece de uma maneira muito natural na horta”.
A presença da horta em espaços públicos como esse não integra somente gerações, mas diferentes políticas públicas. Alvira lembrou que desde a construção do canteiro de plantas medicinais, também facilitada pelo Cepagro, as pessoas que passam por ali notaram a diferença no ambiente, que antes acumulava lixo. A curiosidade sobre a horta foi uma oportunidade de chamar os moradores para outras atividades que acontecem no centro. “A ideia está sendo aos poucos uma forma de integrar as políticas públicas que unam a assistências social, a saúde, a educação. Enquanto a gente traz um grupo de crianças aqui para fazer uma atividade voltada para o cultivo de plantas, a gente também fala da questão de cidadania e dos direitos. Ao mesmo tempo que a gente faz um canteiro com plantas medicinais aqui, as pessoas que trabalham com saúde podem vir e aproveitar esse espaço”, conta a psicóloga.
A professora do Centro Educacional Dom Orione, Candida Eugenia da Silva, contou que a atividade foi uma oportunidade de trabalhar com as crianças a questão do contato com a terra, a sustentabilidade e principalmente a educação alimentar: “Geralmente elas têm uma alimentação bastante industrializada e assim elas conseguem observar de onde vêm as hortaliças e como elas são feitas. Conseguem, de repente, ter mais gosto por esses alimentos não industrializadas, passar a experimentar”.

O grupo de cerca de 15 pessoas participou de todas as etapas da construção da horta: desde o reconhecimento do terreno e observação da posição do sol, passando pela preparação do solo e dos canteiros, até a replantagem das mudas de hortaliças, ervas e flores. Para a repórter fotográfica Rosane Talayer de Lima, “a oficina é uma forma de fazer as pessoas terem um olhar mais coletivo, pensar mais no coletivo e principalmente pensar em uma alimentação mais saudável. Hoje a gente vem em uma campanha contra o agrotóxico e essa atividade proporciona com que as pessoas possam ter um olhar mais solidário”. Já Silvia Einloft Pereira, funcionária do Tribunal Regional Eleitoral, soube da atividade e veio da Palhoça para participar. Ela acredita que “a gente enquanto sociedade se afastou muito desse contato com a natureza, de viver em harmonia e interagir. É muito importante para a saúde, pras nossas relações e para várias áreas da nossa vida”.
A oficina foi uma ação do projeto Misereor em Rede, que trabalha a segurança alimentar e nutricional voltada para os consumidores. Estiveram presentes na atividade a Vice-Presidenta do Cepagro, Erika Sagae e Maria Cláudia Goulart, diretora de Proteção Social Básica, da Secretaria Municipal de Assistência Social. A partir de agora, junto com as plantinhas semeadas no CRAS Capoeiras, a importância de atividades como essa vão florescer e mostrar que saúde, educação assistência social e agroecologia podem andar de mãos dadas.