por Fernando Angeoletto – comunicacao@cepagro.org.br

“A Agricultura Urbana é uma declaração de amor à cidade.”

Foi com esse aforismo que o professor Clarilton Ribas, do CCA/UFSC, iniciou sua argüição sobre a dissertação intitulada “Capital Social e Agricultura Urbana na Gestão Comunitária de Resíduos Orgânicos: o caso do Projeto Revolução dos Baldinhos (PRB)”, defendida no último dia 11 pelo agrônomo Marcos José de Abreu, coordenador urbano do Cepagro.

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A defesa foi realizada junto ao Programa de Pós-Graduação em Agroecossistemas, do CCA/UFSC

Marcos traça um paralelo entre as ferramentas de gestão social que dão conta de reciclar 14 toneladas mensais de resíduos orgânicos, coletados de 200 famílias no bairro Monte Cristo (Florianópolis), e todo o custo e ônus ambientais decorrentes do método convencional de tratamento de lixo na cidade. Além do benefício mais imediato da compostagem comunitária, que é produzir insumo para a prática de Agricultura Urbana, a dissertação comprova que, ao longo de 44 meses, o serviço ambiental prestado pela Revolução dos Baldinhos representou a economia de R$ 137.250,00 para o município.

“Um dado acanhado”, disse o professor Clarilton Ribas. “Por baixo, se pudéssemos contabilizar a economia com demandas ao SUS e o custo evitado com tratamento de jovens drogados, chegaríamos a uma cifra de R$ 880 mil”, argumentou em seguida. A origem da Revolução dos Baldinhos é ligada a uma forte infestação de ratos na comunidade Chico Mendes no ano de 2008, que levou a óbito 2 moradores, e foi contornada pela separação e compostagem dos orgânicos. Já a oportunidade de trabalho para jovens, que oscilaram entre 6 a 9 vagas por período do projeto considerando voluntários e bolsistas, é apontada pelos próprios moradores como uma ferramenta para enfrentar o tráfico e o crime.

Embora não receba a cota municipal a que tem direito pelo serviço prestado, a Revolução dos Baldinhos segue ativa graças aos convênios mediados pelo Cepagro e seus parceiros. Um passo importante na autonomia financeira é a atual incubação de uma Cooperativa, assessorada pela ITCP – Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares, vinculada ao Núcleo de Inovação Tecnológica da Univali.

Alavancada pela compra de uma máquina de peneirar com um dos patrocínios recebidos, a Cooperativa pretende organizar os jovens locais para o processamento, embalagem e venda do composto orgânico produzido pela Revolução dos Baldinhos. É prevista uma metodologia implementada ao longo de 1,5 anos, e que, de acordo com o amadurecimento do grupo, pode antecipar a formalização jurídica da iniciativa. Um rótulo para a identificação do produto já foi desenvolvido e apresentado ao grupo, que tem recebido muitas propostas de compra do composto nos eventos em que participam.

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É recorrente a associação da estética do lixo, sobretudo o reciclável, à possível aura de dignificação comunitária que promove – ideia imortalizada no longametragem Lixo Extraordinário, dirigido por Lucy Walker e que conta a interação do artista plástico Vik Muniz com catadores do aterro de Gramacho, no RJ. Pouca se fala, no entanto, da mesma possibilidade no universo dos resíduos orgânicos que representam, em peso, 50% do lixo doméstico produzido nas cidades.

Ao empoderar seus atores locais com instrumentos de gestão dos próprios resíduos, a Revolução dos Baldinhos redesenha as rotas de entrada e saída de energia das cidades, num fluxo positivo de tecnologia social que proporciona benefícios imediatos em seu dia-a-dia. Não se trata, simplesmente, de um projeto social, mas de um novo paradigma para as cidades e a interface de seus habitantes com os solos, os alimentos, os resíduos e a saúde.

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Exercício de “Linha do Tempo”, dentro da metodologia de incubação de cooperativas proposta pelo ITCP/Univali. São recorrentes as histórias de vidas ligadas ao assédio do tráfico de drogas contadas pelos jovens.