Explicar o funcionamento das compras governamentais de alimentos e articular oferta e demanda de produtos para instituições públicas: estes foram os objetivos do I Seminário Catarinense do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), realizado no dia 8 de agosto, no Centro Sócio Econômico da Universidade Federal de Santa Catarina. Promovido pelo Cepagro, Centro Vianei de Educação Popular e Laboratório de Comercialização da Agricultura Familiar (Lacaf-UFSC), o evento reuniu membros de sindicatos e organizações dos agricultores familiares e de Núcleos da Rede Ecovida de Agroecologia, além de estudantes e representantes da Secretaria de Estado da Educação, Funai, prefeituras, Epagri, IFSC, Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) e dos ministérios da Agricultura, Desenvolvimento Agrário e Desenvolvimento Social. As equipes responsáveis pelos restaurantes da UFSC e da Universidade Federal Fronteira Sul (UFFS), que ainda está estruturando o refeitório, apresentaram diretamente para os agricultores as suas demandas de alimentos.
por Ana Carolina Dionísio
Instituído pelo Ministério do Desenvolvimento Social há dez anos, o PAA faz parte das ações do Fome Zero para promoção da segurança alimentar e abastecimento de universidades, hospitais, presídios e órgãos públicos, além de Bancos de Alimentos e Restaurante Populares, comprando alimentos exclusivamente de agricultores familiares, sem licitação. Em 2012, mais de 190 mil famílias agricultoras venderam produtos para o Programa, operado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Somente através das ações do sub-programa Cesta de Alimentos, por exemplo, foram adquiridas 24 mil toneladas de produtos da agricultura familiar no ano passado. Para o período de 2013/2014, cerca de R$ 130 milhões serão destinados a esta iniciativa. “O Programa de Aquisição de Alimentos representa uma nova oportunidade para o agricultor familiar acessar mercados”, explicou Hetel Leepkaln dos Santos, que representou a Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional do MDS no evento, detalhando o funcionamento do PAA.
Apesar de constituir uma parcela tão importante de mercado, as compras governamentais são acessadas por somente 8% dos agricultores familiares catarinenses. Para ampliar esta participação, de acordo com Hetel, é fundamental que o produtor participe de uma cooperativa ou associação, para inteirar-se tanto do funcionamento destas modalidades de compras quanto das chamadas públicas. “É importante que a família busque primeiro uma organização que possa ajuda-la, como a Rede Ecovida”, disse.
Além de contribuir para um maior entendimento por parte dos agricultores dos meandros das compras institucionais, conforme explicou o coordenador do Lacaf Oscar José Rover na abertura, o seminário também buscou promover o diálogo entre agricultores e compradores, como os Restaurantes Universitários. “Temos bastante interesse em trabalhar com a agricultura familiar. Quanto mais direto for o contato com o produtor, mais certeza teremos da qualidade do produto”, afirma Beatriz Martinelli, diretora do RU da UFSC. Junto com a nutricionista Panmela Soares, elas trouxeram dados sobre o consumo de frutas, verduras, legumes, carnes, frango, pescado e laticínios necessários para preparar as 8,6 mil refeições servidas diariamente no Restaurante. Um aspecto importante do abastecimento do RU é que os itens precisam ser entregues higienizados e pré-elaborados, já que a cozinha não possui espaço suficiente para cortar, picar ou ralar todos os ingredientes. “Isso pode complicar pelo processamento, mas agrega valor aos produtos”, avalia Panmela Soares.
Com a abertura prevista para o primeiro semestre de 2014, os RUs dos cinco campi da UFFS fornecerão ao redor de 4,5 mil refeições por dia. “É do nosso interesse que 100% dos alimentos sejam da Agricultura Familiar”, disse o Pró-Reitor de Planejamento da UFFS Vicente de Paula Almeida Júnior. Ele e a nutricionista Bruna Mussio abordaram no Seminário as diretrizes que balizam o processo de implantação dos restaurantes, que está sendo coordenado por uma comissão em que participam representantes da Agricultura Familiar. De acordo com Bruna, os critérios e demandas de alimentos da UFFS constarão em uma chamada pública da Conab que provavelmente sairá em outubro. “A prioridade será para a Agricultura Familiar”, reforçou a nutricionista.
Acessando o PAA
Os agricultores podem participar do PAA individualmente ou através de cooperativas ou associações, mas devem sempre estar enquadrados no Pronaf. O documento de identificação de agricultor familiar é a Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP): é através dela que o governo controla quanto está comprando de cada unidade produtiva. No caso do PAA, o limite de vendas é de até R$ 8 mil reais anuais por DAP. Outra modalidade de compras públicas é o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), para quem o agricultor também pode vender até R$ 20 mil reais por DAP.