A visita ao Centro Paranaense de Referência em Agroecologia aconteceu nos dias 26 e 27 de novembro, reunindo agricultores e agricultoras de diversos grupos da Rede Ecovida de Agroecologia, além da agrônoma Aline de Assis, da equipe técnica do Cepagro. O grupo pôde conhecer e conversar sobre comercialização, cestas agroecológicas, produção animal agroecológica, plantas medicinais e preparados homeopáticos, além de visitar a Casa da Semente Crioula.
Há algum tempo a coordenação do Núcleo Litoral Catarinense da Rede Ecovida vinha discutindo maneiras de se tornar mais rede de Agroecologia e menos rede de certificação. Segundo Cátia Cristina Rommel, do Grupo Germinação (Anitápolis e Santa Rosa de Lima), o objetivo das capacitações era que os agricultores pudessem trabalhar mais a Agroecologia e passar menos tempo se fiscalizando e se punindo, ir para além da certificação. A visita ao CPRA, que se localiza na cidade de Pinhais, próxima a Curitiba, contemplou o desejo do grupo, pois incluiu diversos temas que vinham sendo discutidos nas reuniões.
A capacitação começou com uma discussão sobre formas mais democráticas e contra hegemônicas de comercialização, e que assegurem também menos fragilidade para os agricultores em meio às oscilações de mercado. Depois viram as questões de manejo animal agroecológico, rotação de pastagem, uso de fitoterápicos e outras formas de controle de parasitas. Além de conhecer várias espécies de abelhas nativas.
O CPRA, como eles mesmo falam, possui o privilégio de trabalhar exclusivamente a Agroecologia, o que é raro. O Centro é uma autarquia do estado e em um mesmo espaço consegue concentrar várias abordagens. Durante a capacitação, os agricultores do Núcleo aprenderam ainda sobre construção de estufas usando bambu, plantas medicinais aromáticas e abordagens das Cromatografias de Pfeiffer, uma forma de análise de solo que o próprio agricultor pode fazer.
Em seguida, o grupo seguiu para a Associação Brasileira de Amparo a Infância (ABAI), em Mandirituba/PR, instituição que trabalha com crianças a partir da ecologia e usando sementes crioulas como forma de autonomia. Além disso eles abrigam a Casa da Semente Crioula, onde fazem um trabalho de resgate de sementes com as crianças. Lá os agricultores puderam trocar e adquirir sementes agroecológicas, o que é muito difícil de conseguir, segundo Cátia. Por fim, aprenderam como selecionar variedades de milho e visitaram o senhor Dantas, um dos guardiões de sementes que possui uma grande diversidade.
Cátia Cristina contou que a Casa da Semente Crioula é uma experiência que também envolve a Rede Ecovida de Agroecologia, porque algumas das sementes utilizadas pelos produtores associados vêm de lá. A agricultora disse ainda que essa capacitação era um sonho e que depois de meses de articulação, foi muito gratificante ter feito a viagem, “Olhar de fora o nosso lugar é sempre enriquecedor, é como cruzar uma fronteira e olhar para o teu país, é sempre uma percepção diferente quando se olha de fora. Está todo mundo voltando pra casa com muito entusiasmo e muita inspiração”.
A agricultora Cristina Alves, do Grupo Associada (Nova Trento e Major Gercino), se sentiu engajada a também se tornar uma guardiã, tentar plantar essas sementes crioulas, conseguir novas a partir do plantio e repassá-las. “Foi um conhecimento maravilhoso saber que existem pessoas que são esses guardiões e que protegem essas sementes e que têm a capacidade de estar passando para outras pessoas e de cuidar desse tesouro com muito carinho”, disse Cristina. A sensação ao final da viagem foi de quero mais.