Na tarde da última quarta-feira, 20 de março, o Cepagro recebeu a ilustre visita de agrônomos e pesquisadores de diversos países para uma conversa com grupos locais de agricultores e parceiros do Cepagro. O grupo de 30 visitantes contava com pesquisadores vindos dos Estados Unidos, Canadá, El Salvador, Quênia, Alemanha, Tanzânia, Peru, Finlândia e Equador, todos membros do Programa Colaborativo de Pesquisas sobre Cultivos (CCRP), da Fundação McKnight, sediada em Minnesota, nos Estados Unidos.
Florianópolis foi a cidade escolhida para a realização da reunião anual do Programa em 2019, dez anos após a realização da primeira reunião na capital catarinense, quando o Programa iniciava a sua primeira fase. A escolha do local, segundo Jane Maland Cady, diretora do Programa Internacional da Fundação McKnight, se deu pela simbologia dos 10 anos, porque a cidade é um local central para reunir os representantes vindos de diferentes países e, principalmente, porque o Brasil é pioneiro e possui muitas experiências na área da Agroecologia.
Para dividir suas experiências locais de práticas agroecológicas com os visitantes internacionais, estiveram presentes o Fábio Ferraz e a Bárbara Ventura, representantes do Assentamento Comuna Amarildo de Souza, o Cacique Artur Benites e as lideranças Alexandro e Fábio, representando a comunidade Guarani da Aldeia Tekoá vy’a, de Major Gercino, também Shirlen Vidal de Oliveira e Helena Jucélia Vidal de Oliveira, do Quilombo Vidal Martins, no Rio Vermelho em Florianópolis. Além do casal de agricultores urbanos Raquel Solange de Souza e Alaércio Vicente Pereira Junior e dos pesquisadores parceiros do Cepagro Dana James e Evan Bowness, da Universidade de British Columbia (Canadá). Esteve presente também o Prof. Antonio Munarim, do Centro Vianei de Educação Popular.
Depois de um almoço descontraído compartilhado na sede do Cepagro, pesquisadores e agricultores se reuniram no pátio do CCA, ao ar livre, para uma conversa sobre as experiências agroecológicas. A roda de conversa começou com uma rápida apresentação geral e em seguida os grupos locais falaram um pouco sobre como trabalham a Agroecologia em suas localidades e sobre como se dá a parceria com o Cepagro.

Todos eles falaram dos avanços que tiveram nos últimos tempos, com relação à produção e comercialização dos seus produtos, mas também trataram enfaticamente das dificuldades vivenciadas atualmente, principalmente com relação ao acesso à terra. Tanto as quilombolas Shirlen e Helena, como os assentados Fábio e Bárbara e os guaranis Alexandro, professor Fábio e o cacique Artur contaram como suas populações enfrentam os problemas da incerteza com relação à terra onde vivem e onde plantam seu alimento e sua fonte de renda.
Para que a Agroecologia possa acontecer, a democratização do acesso à terra para os povos do campo e da cidade se faz necessária. O relato dos três grupos sociais que historicamente batalham por esse direito, seja pela reforma agrária como é o caso dos assentados, seja pela posse dos territórios tradicionais para indígenas e quilombolas, contextualizou para os pesquisadores de outros países como essa questão é enfrentada no Brasil.
O pesquisador Ernesto Méndez, Ph.D. e Professor de Agroecologia e Estudos Ambientais na Universidade de Vermont, nos EUA, gostou muito de ter conhecido os grupos quem fazem Agroecologia em Santa Catarina. “O Brasil é forte na Agroecologia e é muito importante escutar vocês, os produtores e os indígenas. É muito importante para o nosso programa aprender um pouco da experiência no Brasil”, disse. Ernesto é membro do Comitê Consultivo do Programa Colaborativo de Pesquisas sobre Cultivos da McKnight, que se propõe melhorar o acesso a alimentos locais, sustentáveis e nutritivos usando pesquisa colaborativa e compartilhamento de conhecimento com pequenos agricultores, instituições de pesquisa e organizações de desenvolvimento.
Carlos Barahona-Zamora, diretor geral da organização Stats4SD – Estatísticas para o Desenvolvimento Sustentável, parceira da Fundação McKnight, também achou a vinda à Florianópolis muito rica. “O genuíno das experiências que os companheiros compartilharam nos dão muito o que pensar”, disse Carlos. Segundo ele, os relatos e reivindicações dos quilombolas, indígenas, assentados e agricultores urbanos “geraram algumas reações e comentários muito interessantes nos companheiros da equipe” e o que ouviram vai fazer com que modifiquem alguns de seus planejamentos.
Para Raquel Solange de Souza, agricultora urbana do Ribeirão da Ilha, ter a oportunidade de falar sobre sua vivência com a Agroecologia no meio urbano para grupos locais e pesquisadores internacionais foi sensacional. “Foi muito legal, mesmo sem falar inglês, poder me comunicar com as pessoas que vieram de fora e também poder conhecer os indígenas e as quilombolas, porque eu nunca visitei uma aldeia e um quilombo”, contou Raquel. “Como assistente social eu já dei várias palestras, mas de um tema que eu tinha propriedade. E estar ali para falar sobre Agroecologia, era só a experiência pessoal minha, foi mais colocar o coração para fora”, acrescentou.
Como apontou Charles Lamb, Coordenador de Desenvolvimento Rural do Cepagro, “Faz parte das características do Cepagro possibilitar o contato de pesquisadores e membros de organizações como a McKnight e os grupos com os quais trabalhamos, trazendo transparência e possibilitando o exercício da fala por parte destes grupos, apresentando suas demandas e colaborações para um mundo mais agroecológico”.
Esse contato com diferentes realidades que o Cepagro possibilitou cativou a admiração da diretora do CCRP, Jane Maland Cady. “Para mim o mais lindo foi o trabalho do Cepagro. O nome Cepagro, você pode ouvir em muitos lugares diferentes, e ver o Cepagro dentro da Universidade e ligado com as comunidades diversas, fazendo pesquisa, políticas públicas,  produtos verdadeiros e lutando por crédito, esse tipo de ação é muito importante e inspiradora”.
Antes de deixar o Centro de Ciências Agrárias da UFSC, os membros do Programa Colaborativo de Pesquisas sobre Cultivos puderam ainda conhecer a atuação do Laboratório de Comercialização da Agricultura Familiar (LACAF), que também se apresentou e contou um pouco das experiências com a comercialização direta para agricultores familiares.