Na última quarta-feira, 21 de agosto, Eduardo Rocha e Henrique Martini Romano, da equipe do Cepagro, facilitaram uma roda de conversa sobre direito à alimentação no Centro de Referência em Assistência Social (CRAS) do bairro Jardim Eldorado, na Palhoça. A atividade aconteceu a convite da assistente social Jucênia Judite de Souza e compôs o Projeto de Horta Comunitária CRAS Jardim Eldorado, que tem como objetivo realizar oficinas sobre diversos temas, além, é claro, de implantar uma horta comunitária no local.
Após uma roda de apresentações, Eduardo Rocha perguntou ao grupo presente: o que é comida de verdade? Entre as respostas surgiram as palavras agricultura, hortaliças, grãos, chás e ervas medicinais, além de saúde, memória e em resumo: alimentos que vêm da agricultura familiar.
O alimento se tornou mercadoria e comer, um ato político. “Quando a gente escolhe o alimento que quer comer, quando escolhemos entre a feira ou o supermercado, a gente está escolhendo entre a agricultura familiar e o agronegócio”, disse Eduardo. Neste momento Seu João Carlos, morador do bairro Jardim Eldorado complementou: “Boicote também é ato político!”.
Mas nem sempre temos opção. Através de programas e políticas públicas, o governo também escolhe o alimento que vai estar em nossas mesas, lembrou Eduardo ao afirmar que hoje há uma política assistencialista para o agronegócio e as grandes indústrias e cada vez menos incentivo para os/as agricultores/as familiares: “bilhões de reais são destinados anualmente pelo Governo Federal ao agronegócio”, disse. É comum ouvir pessoas do setor afirmando que o Estado é muito assistencialista e que não se deve dar o peixe mas ensinar a pescar, “mas se for fazer uma análise crua, o Estado também é bem assistencialista com o agronegócio, é só pegar o Plano Safra e ver o quanto ele assiste financeiramente o agronegócio, com o orçamento do Estado que vem do nosso bolso”, complementou. Não é à toa que o refrigerante é muitas vezes mais barato que o suco natural. Também não é por acaso que o Brasil é um dos países que mais consome agrotóxicos no mundo.
A batalha é grande contra o “agro pop e agro tech”, lembrou Jucênia. Assim, escolher fazer uma horta comunitária no CRAS também é um ato político. E a ideia veio de um usuário que frequentava o grupo de Benefício de Prestação Continuada (BPC), voltado para pessoas em situação de vulnerabilidade. A assistente social Jucênia, a psicóloga Flávia Caner Dias e a estagiária e graduanda em serviço social, Fernanda Rafaela Moreira abraçaram a ideia e estão colocando em prática o projeto. 
Fernanda, que fará o seu Trabalho de Conclusão de Curso sobre o tema da horta na assistência social explica que “a ideia principal da horta é trabalhar os vínculos familiares e comunitários, além da complementação alimentar”. Jucênia também vê grande potencial na horta: “O CRAS é um espaço que trabalha com pessoas em situação de vulnerabilidade, então a questão da alimentação entra nisso. E a horta também é um complemento pedagógico porque as mudas, a horta e a alimentação mexem com as lembranças”, conta.
Em seguida, Henrique propôs uma dinâmica onde os presentes discutiram em grupos quais as habilidades, valores e conhecimentos necessários para se fazer uma horta. Foi consenso que para uma horta comunitária acontecer é preciso haver respeito, colaboração, coletividade, cuidado, alegria e amor.
Além da roda de conversa facilitada pelo Cepagro nesta semana, os/as usuários/as também receberam uma oficina de minhocário no dia 14 de agosto, com Luis e Osmar, mais conhecidos como Sr. Minhoca e Sr. Jacaré, funcionários do Horto de Palhoça.
Os materiais para a horta já estão em mãos e a vontade de fazer acontecer é grande.  Durante a roda de conversa ficou decidido que o próximo passo será organizar um mutirão para delimitar o espaço da horta e tirar a ideia do papel. Paulo Freire disse certa vez que  “O mundo não é, o mundo está sendo” e como bem lembrou Henrique Romano, “O CRAS não é, o CRAS está sendo”.