Sexta-feira, 6 de dezembro, foi dia de celebrar mais um ano de promoção da Agroecologia em Major Gercino (SC).  Desde março, o Cepagro esteve desenvolvendo ações de capacitação e transição agroecológica com famílias agricultoras e atividades de educação na escola rural Professor Tercílio Bastos, através do projeto Iniciativas Sócio-Ambientais e Educativas em comunidades rurais. A fim de fazer uma avaliação final do projeto, foi realizado o Seminário Caminhos Agroecológicos: alimentos saudáveis nas escolas e comunidades. O evento reuniu agricultores e estudantes em torno da Agroecologia e trouxe novas possibilidades para a educação agroecológica na região.

O projeto de Horta Escolar no município surgiu a partir de uma demanda colocada por famílias agricultoras em seminário realizado no ano passado. O evento acontecia no contexto do Outubro Rosa e tinha como tema o impacto dos agrotóxicos na saúde. Naquele momento, os agricultores do Grupo Associada da Rede Ecovida falaram da necessidade de um trabalho que envolvesse os(as) jovens, o que se tornou realidade com o apoio do Instituto das Irmãs da Santa Cruz.
Durante o Seminário deste ano, turmas do 6º ano ao ensino médio compartilharam as experiências feitas junto com o técnico de campo e educador do Cepagro, Henrique Martini Romano. Ao longo do ano letivo, foi possível trabalhar o conceito de agroecologia, atividades de compostagem, cultivo de cogumelos e o mais importante, segundo Henrique, trabalhar valores para uma relação de mais respeito e cuidado com a natureza. Além disso, as turmas puderam visitar agricultores orgânicos da região e assim conhecer alternativas de trabalho e renda no campo.

A diretora da escola, Fabiane Laurindo Motta diz que a horta é um laboratório de experiências e avalia que o projeto melhorou a qualidade da alimentação escolar, levando a educação alimentar para fora da escola. “O mais importante é que a gente come o que planta. Estamos muito felizes com esse projeto e desejamos do fundo do coração que ele continue”, disse Fabiane. E assim como a horta escolar rural surgiu a partir de um seminário, este também gerou novas proposições.

Uma delas feita pela técnica da Coordenadoria Regional de Educação em Brusque, Darli de Amorim Zunino, que atende Major Gercino e outros 7 municípios. Darli lembrou que até 2022 as escolas estaduais terão de se adaptar ao novo ensino médio, com formação técnica e profissional. Contente em ver os impactos positivos do projeto, Darli afirmou a necessidade de criar um curso de Agroecologia no município e assim “preparar para que esses jovens possam estar trabalhando com produtos saudáveis e orgânicos, pela possibilidade de uma futuro melhor”, disse. Ela defendeu ainda a importância da educação do campo, “uma forma de mostrar para as crianças que ser agricultor neste país é algo significativo e precisa ser valorizado”. O Coordenador Regional de Educação, João Eugênio Rovaris, também estava presente no seminário. Ele acredita que “ensinar é amar” e parabenizou o trabalho realizado na escola dizendo que “são trabalhos como esse que contribuem muito com a comunidade”.

O Coordenador de Desenvolvimento Rural do Cepagro, Charles Lamb, confirma a continuidade do trabalho com a horta escolar para o ano letivo de 2020 e comenta: “Do ponto de vista de fortalecer relações com as comunidades e escolas do campo, a iniciativa proposta pela coordenação regional de educação em trabalhar com um ensino profissionalizante agroecológico na Escola Professor Tercílio Bastos foi uma grande surpresa. É um reflexo dos resultados alcançados neste ano de trabalho e uma oportunidade aos jovens agricultores e agricultoras da região”.

Além dos estudantes, os agricultores orgânicos também compartilharam os avanços obtidos em 2019. Um deles foi o abastecimento da merenda escolar municipal por parte do Grupo Associada da Rede Ecovida, o que também havia sido colocado como uma demanda no último seminário. Embasado pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), o coordenador do Grupo, Ernande Stolarczk, articulou com a nutricionista da educação municipal, Ana Luiza Zambonato Dorneles, a compra da merenda escolar orgânica. Ana Luiza conta que graças à iniciativa do grupo, há quase 6 meses os 30% da compra da Agricultura Familiar é orgânica e defendeu a importância disso ao lembrar que a ingestão de agrotóxicos pode causar câncer e outras doenças.

Ernande também estudou na Escola Prof. Tercílio Bastos e está há mais de 10 anos na agricultura orgânica. Ele comemora por não usar mais agrotóxico e por ver que o Grupo Associada está crescendo: “Uma família sozinha não consegue, é muito difícil, por isso a gente criou o grupo”, que hoje abrange também Angelina, Leoberto Leal, São João Batista e Nova Trento. Ernande convidou as famílias dos estudantes a participarem do Grupo Associada e a fazerem a transição agroecológica. Convite reforçado por sua mãe, Salete Stolarczk. “É muito bom trabalhar na Agroecologia, nossa saúde melhorou 80%”, disse Salete. Antes de cultivar uvas orgânicas e biodinâmicas, ela plantava fumo. Não sente saudades daquele tempo e durante o seminário recitou: “vou dar minha opinião, mesmo ela sem ser pedida. Quem produz sem agrotóxico, valoriza toda a vida”. 

As atividades de apoio a estas famílias em 2019 envolveram capacitações para o planejamento de produção, manejo integrado de pragas, implantação de biodigestor e melhoria na comercialização. Esta última se deu através da organização de células de consumo, apresentada pelo agricultor e vice-prefeito, Moacir Batisti. “A gente vem de família que trabalhava na roça antes do tempo do agrotóxico. Quando ele chegou começamos a usar pra ser mais fácil de produzir”, conta Moacir, que hoje agradece o convite feito há mais de 6 anos pela família Stolarczk para a transição agroecológica e apoio do Cepagro nesse processo.

Este ano, Moacir iniciou a entrega de cestas na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em Florianópolis. Conta que já foram entregues pelo menos 2.591 cestas de 4,5 kg ou 9 kg. Mais de 12.800 kg de alimentos orgânicos entregues, melhorando o escoamento dos produtos e o faturamento da família, principalmente por se tratar de uma venda mensal garantida.
Além dessas famílias, outros agricultores do Grupo Associada se apresentaram durante o evento, como Emerson Casas Salvador, que cultiva cogumelos e contribuiu com substratos para as atividades de educação. Uma das riquezas do projeto de Iniciativas Sócio-Ambientais e Educativas foi a relação desenvolvida entre estudantes e agricultores. Relação que seguirá fortalecida em 2020, segundo Charles Lamb, “Enquanto Cepagro, seguiremos em 2020 parceiros e fomentadores dessas relações oportunizadas pelo projeto das Irmãs da Santa Cruz”.

Durante o seminário, os alunos e alunas também levaram as famílias agricultoras para conhecer a horta pedagógica e em seguida foi servido um café agroecológico com produtos do Grupo Associada, preparados com carinho pelas cozinheiras e funcionárias da escola. O evento encerrou com uma apresentação musical dos estudantes, em tom de comemoração pelos passos dados nos últimos meses e pelo caminho que se abre para a agroecologia no município. As famílias e estudantes também puderam levar para casa mudas de frutíferas nativas da Mata Atlântica, doadas pela Floricultura Flora Santa Rita, da Palhoça.
O Seminário foi organizado pelo Cepagro em parceria com a Escola Professor Tercílio Bastos e Grupo Associada da Rede Ecovida e contou com o apoio do Instituto das Irmãs da Santa Cruz e da Prefeitura de Major Gercino.